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ENTREVISTA na HARDCORE
Lumbras Branding
Entrevista
10 perguntas para OS LUMBRAS - Ronald e Ricardo Fincato
Texto: Eduardo Stryjer / Retrato: Jefferson Dias

Os Lumbra, Ronald e Ricardo Fincato, ficaram famosos nos anos 80 com exibições de filmes de surfe em 16 mm. Eles passavam num telão na FGV [Faculdade Getúlio Vargas] em São Paulo e também em outros estados. Cuidavam de todo processo, da captação de patrocínios, promoção até a transmissão das obras. Entre as sessões, com uma média de 800 cabeças, realizavam teatros psicodélicos, colocavam boazudas de biquíni asa-delta para desfilar, entre outras pirações que conquistavam a galera. Desde 1987 com a Lumbras Branding, hoje os brothers de alma trabalham na construção e gestão de marcas, como doutores que medicam seus pacientes [o cartão da empresa é uma pílula]. Com 40 anos de surfe e integrantes da segunda geração de surfistas do Guarujá, eles se formaram em Direito, mas acabaram seguindo o feeling das ondas. A entrevista, que rolou no escritório deles em Sampa, foi muito astral. Se tivesse que reproduzi-la na íntegra, precisaria de no mínimo 10 páginas para contar uma parte da história que carregam. Falamos de tudo, principalmente do mercado, das marcas e do valor que o surfe tem hoje como produto. Como pano de fundo, o anoitecer da cidade em 180º através dos janelões da muito bem decorada sala dos eternos irmãos Lumbra.

1 – Vocês praticamente criaram o conceito de marketing no surfe numa época em que o esporte ainda engatinhava. Como vêem o mercado hoje?
RICARDO: Nos últimos cinco anos o mercado mudou radicalmente. As tendências são outras, mudou o comportamento do consumidor, a maneira de encantá-lo, inclusive a forma de trabalhar. Agora a gente trabalha muito mais do que antes. Temos que ser mais criativos, saber otimizar o tempo, as margens estão cada vez menores e a disputa cada vez maior. O que a gente procura fazer é criar novas fórmulas de trabalho interno e de comunicação com o consumidor.

2 - O ponto forte da Lumbras Branding é a ambientação, como o show room que vocês desenvolveram para a Nike?
RICARDO: Isso também, além de uma série de outras ações de energização de marca. Nossa especialidade é trabalhar em cima do ponto de venda, da rua e junto ao consumidor. O objetivo dessas ações é atingir menos pessoas, mas com muito mais qualidade. Esse processo é mais custoso, trabalhoso. É de um a um, é mano a mano.

3 - Na real, vocês estão retomando a tática de trabalho que faziam com os filmes de surfe nos anos 80. O resgate de valores, de falar e olhar nos olhos de cada um...
RICARDO: Você observou bem, pegou na veia. É exatamente isso, aquele trabalho que fazíamos, de ir à praia, falar com cada um, entregar o flyer na mão do cara e depois da sessão ainda enviar um kit do filme para cada um. Esse marketing de guerrilha é a maneira mais eficiente. A gente está retomando isso, só que agora temos o avanço da tecnologia e as facilidades do mundo atual, além do nosso amadurecimento. É isso que temos a oferecer às marcas que nos procuram.

4 – E como elas estão hoje em dia?
RICARDO: Vamos falar de Brasil. O surfe ficou com a mesma fórmula durante anos. Novas marcas fora do segmento começaram a surgir com produtos legais e com uma comunicação mais evoluída. O consumidor passou a ser atraído por essa nova história. Antigamente as lojas multimarcas só vendiam surfe e skate. As confecções de moda jovem, de roupa bacana, quem disponibilizava era o surfwear. Mas hoje qualquer marca bacana faz bordshorts legais pra caramba. Por exemplo, a Nike desenvolve uma linha só para skate, outra para surfe, com artigos super legais e com uma pegada atual.
RONALD: Os caras criam produtos mais limpos, mais street e com muito mais tecnologia.
RICARDO: Não só a Nike, mas a Puma, Adidas e até a própria Lacoste. Esses caras estão atraindo um público do nosso mercado. E como as marcas não fizeram um trabalho de renovação, a galera acha que o surfe perdeu valor. E é uma realidade, ele olha na televisão e fala: “Pô, vi o cara sendo preso, ele estava com uma camiseta daquela marca de surfe...”. Não é por falta de produto, mas por perda de valor.
RONALD: Descuidaram do produto surfe, como marca foi maltratado, mal conduzido.

Ricardo, Puerto Escondido, anos 80.

5 - Perder valor está relacionado à falta de criatividade? Por exemplo, apesar de não apoiar o esporte como deveria, a Osklen achou um nicho de mercado, pegou o produto surfe e deu status a ele.
RICARDO: Total, é uma das que também se encaixam nas que comentei. É uma marca que vem encantando muita gente. Por quê? Porque foi bem conduzida em termos de comunicação e produto. Você entra numa loja Osklen o cheiro é bom, o espaço é limpo, a arquitetura é bacana... Daí você pega o produto, é um lance diferenciado. Foi a primeira marca que propôs somente a silhueta, uma cor, o toque e a lavagem são demais. Tudo com despojamento e sofisticação, conseguiu conquistar. No surfe, a loja é uma poluição visual danada, produtos empilhados, rola um certo mal gosto...
RONALD: E os caras ainda no corredor te chamando de mano.

6 - Vocês comentam do visual das lojas, da confusão de linguagem. O surfwear nacional não tinha ponto de venda e por isso sempre dependeu dos lojistas...
RICARDO: Por isso que as marcas legais, que têm condição de grana, estão abrindo lojas próprias, as monomarcas. Para justamente passarem o conceito delas e assim resgatar o surfe como produto. Você vai numa loja da Volcom ou Billabong e começa a ter uma percepção que o esporte é uma coisa legal. O que eles querem fazer é agregar novamente valor ao produto surfe.

7 – Então a tendência é essa, das monomarcas?
RONALD: Sim, coexistência que vai forçar provavelmente as multimarcas a melhorarem.
RICARDO: Esse cenário não interessa ninguém. Tudo bem, o lojista não está lá porque ama o esporte, ele é comerciante, quer ganhar dinheiro. Esse cara talvez nem consiga ver que com o passar do tempo ele também será prejudicado. Eles até buscam fazer o melhor, mas muitas vezes não sabem como, não é a praia deles. As monomarcas são uma nova referência para os caras se espelharem, ao mesmo tempo puxa o nível da galera. Com isso, as multimarcas também vão melhorar em tudo, no mix de produtos, limpeza, visual, estética, comunicação. Acredito nisso. Outro lance interessante é a quantidade de lojas legais que existe, se você andar num shopping você vai ver. É por isso que o nosso consumidor está migrando, porque ele passa na frente de uma loja de surfe que continua igual há 30 anos.
RONALD: Aí você entra na questão dessas empresas que são abertas [capital aberto]. Do jeito que as coisas andam, para serem feitas demandam grandes quantias de dinheiro, são só elas que podem assumir esse movimento de abrir lojas próprias, de patrocinar campeonatos internacionais, porque na hora que você passa a régua é milhão que não acaba mais. Então só elas têm condições para isso e, sem dúvida, são bem-vindas... [risos]. Se não fossem elas a coisa continuaria na descendente, como vem ocorrendo.

Ricardo, Puerto Escondido, anos 80.

8 - Vocês não acham que o consumidor também mudou?
RONALD: Sim, hoje o jovem está multi-esportivo, além de surfar, também joga tênis e pratica outros esportes. Está mais democrático.
RICARDO: Acho que as marcas não precisam ficar restritas ao surfe. Antes elas tinham receio de perder autenticidade, deixar suas raízes. A gente vê que se for bem feito e conduzido, amplia mercado, agrega valor, como é o caso da Quiksilver. Se você for numa estação de ski, você vai ver Quiksilver. Os caras das marcas podem fazer ações de comunicação fora da praia, como eventos em colégios e faculdades de São Paulo. A maioria não vai ser surfista, mas você vai mostrar o que é o surfe para eles. Acredito em foco, acredito em manter as raízes, só que também acredito num trabalho bem feito que possibilite um leque maior de consumidores. Porque hoje está cheio de cara bacana, que entende a linguagem do esporte, mas que não é surfista.

9 - Vocês poderiam revelar a “doença” mais freqüente entre as marcas?
RICARDO: O principal problema que resume tudo é a falta de sintonia com o consumidor atual. Falta de sensibilidade para saber o que está acontecendo no mundo, trazer isso para dentro da empresa e colocar para fora em termos de produto e comunicação. Não é culpa dos empresários, é impossível assumir essa competência, você precisa estar focado 24 horas. Mesmo assim, ainda sente que está ficando pra trás.
RONALD: A razão pela qual gosto de trabalhar com marcas é que não tem fórmula. É um negócio totalmente abstrato que requer vivência, conhecimento e sensibilidade. É difícil, não é para qualquer um. Acho que o cara sendo empresário faz parte do sucesso dele ter essa sensibilidade.

10- E o papel de cada um de vocês nessa cura?
RONALD: Sou mais teoria e burocracia, mais organização e administração. O Ricardo é o criativo. Tem também os designers que concretizam tudo isso. Sendo um negócio intangível e abstrato, ter a participação de várias cabeças é importante. Você tem diferentes feelings para formar o caldo. Por exemplo, eles criam e chamam alguém de fora para dizer o que achou. É aí que muitas vezes vejo bastante coisa.
RICARDO: Aqui todo mundo faz tudo, a gente acredita no trabalho em equipe. Nós desenvolvemos isso com os clientes também. Trocamos informações que são vitais para a boa condução do negócio. Cada vez mais é necessário essa união, você precisa ser um especialista. Há conhecimentos que não temos, somente o cliente, por isso trocamos idéias, precisamos escutar as pessoas e criar um elo de informações.

 
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